segunda-feira, 1 de julho de 2013

BR 163 SEMINÁRIO

O Seminário de Integração do Corredor da BR 163, será realizado nos dias 04 e 05 de julho em Santarém.




Com muitos entraves criados, principalmente de ordem ambiental, o projeto de asfaltamento da BR-163 começou sair do papel há menos de cinco anos (em 2007), empurrado pela pujante produção de grãos mato-grossense, ainda dependente dos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR) para ser exportada. Os custos dessa operação, pagos pelos produtores, são altíssimos, algo em torno de 125 dólares por tonelada, 35% a mais caso o escoamento fosse feito pela 163 via porto de Santarém. (fonte: Movimento Pró-Logística).

Motivados pela demora na execução das obras, no início da década de 2000, muitos produtores do Mato Grosso transferiram suas máquinas e equipamentos para Santarém, onde a multinacional Cargill Agrícola implantava um terminal fluvial para embarque de grãos. O município dispunha de mais de 500 mil hectares de áreas propícias à produção graneleira, o que se apresentava como ótima oportunidade para os mato-grossenses. Mas, não foi o que aconteceu. A expectativa de transformar Santarém e a região Oeste do Pará num importante polo de produção de soja (principalmente) na Amazônia, foi frustrada por conflitos ambientais, culturais, políticos, econômicos e até climáticos. A produção mecanizada em Santarém, que no seu auge, no ano de 2004, chegou a quase 90 mil hectares plantados, respondendo por mais de 30% do PIB municipal (Fonte: CEAMA), hoje se restringe a menos de 30 mil hectares e sua representatividade no Produto Interno Bruto não passa de 13%.

A BR-163, mais conhecida como rodovia Cuiabá-Santarém ou Santarém-Cuiabá, tem 1.785 KM entre a Pérola do Tapajós e a capital do Mato Grosso, embora seu trajeto prossiga até o município de Tenente Portela, no Rio Grande do Sul, num total de 3 mil e 500 quilômetros. Inaugurada no dia 20 de outubro de 1976 pelo então presidente Ernesto Geisel, sua função era fazer a integração da Amazônia com o Centro-Oeste e mais especificamente, servir de corredor de exportação para a produção agrícola do Mato Grosso. Já se passaram quase quatro décadas sem que o projeto alcance seus objetivos, uma vez que seu asfaltamento ainda não foi concretizado, faltando uma parte significativa das obras.

Ao ser aberta, a estrada representou uma oportunidade de integração nacional e expansão das atividades econômicas para uma região até então praticamente desabitada. Hoje, ela tem influência sobre uma população de mais de 2 milhões de habitantes no Pará e Norte do Mato Grosso. De acordo com dados divulgados pelo Movimento Pró-Logística, dos 1.000 quilômetros entre Santarém e a divisa com o Mato Grosso, incluídos na primeira fase do PAC – Programação de Aceleração do Crescimento – em 2007, apenas 30 por cento do trecho está asfaltado. A previsão do governo é que o serviço esteja pronto no final deste ano.

Mesmo sem o asfaltamento completo, esse corredor de transporte já vem provocando inúmeros impactos na vida dos moradores da região Oeste do Pará, considerada a porta de entrada de produtos e serviços mato-grossenses no território paraense. Assim que começar o transporte dos grãos produzidos naquele estado para os portos do Pará, prevê-se enormes impactos de aspectos positivos e negativos. Embora o governo federal tenha desenvolvido diversos programas de compensação desses impactos, anteriores à licitação da obra de asfaltamento, o assunto vem sendo pouco discutido pela sociedade local. O plano BR-163 Sustentável, lançado no dia 5 de junho de 2006, contempla ações compensatórias em três linhas de atuação: Manejo das Florestas Públicas; Apoio às Iniciativas de Produção Sustentável; Fortalecimento da Sociedade Civil e dos Movimentos Sociais. Para atender uma área de 1,2 milhão de KM2 sob influência do projeto, as ações compensatórias deveriam atingir 79 municípios dos Estados do Pará, Mato Grosso e Amazonas. Mas, ao final do ano passado, quando o plano deveria ser encerrado, menos da metade dos trabalhos havia sido executada. Na visão das entidades sociais, o Governo Federal resolveu ceder às pressões por grandes obras e priorizou a construção de hidrelétricas como Belo Monte, no rio Xingu e outras na bacia do rio Tapajós, em detrimento às medidas de preservação ambiental que constavam no referido plano. Paralelo a isso, o asfaltamento da rodovia também não foi concluído no prazo previsto.

Enquanto o governo federal se perde na sua teia burocrática, a iniciativa privada vai tornando realidade o corredor de transporte da BR-163, mesmo a estrada apresentando vários trechos sem asfalto. Inúmeras empresas adquiriram terrenos nas margens dos rios Tapajós, no Distrito de Miritituba, município de Itaituba e Amazonas, em Santarém. Outras aguardam abertura de concorrência da CDP para também se instalar por aqui. Algumas se juntaram em consórcio, cooperativa ou joint-venture, à espera do grande momento. Nesse quadro se destaca o uso do porto de Santarém para embarque de grãos para o exterior, ou outros portos regionais também para embarque de grãos a serem exportados pelos portos de Vila do Conde, em Barcarena e Santana, no Amapá. O inverso dessa operação rodoviária serviria para transporte de mercadorias produzidas na Zona Franca de Manaus, até o Sudeste do país. Os produtos seriam trazidas em balsas até Santarém ou Itaituba, de onde seguiriam, nas carretas graneleiras, no rumo sul.

Essa movimentação toda vai provocar mudanças na economia, na cultura e na vida social da população. A migração registrada nos últimos anos deverá se intensificar com a abertura de novos negócios, criação de novos postos de trabalho. Mas, o corredor de transporte entre o Pará e Mato Grosso também abrirá uma enorme porta para entrada da violência, dos conflitos fundiários, crimes ambientais, prostituição, exploração do trabalho escravo, dentre outros. 

Diante desse quadro, é necessário reunir todos os agentes envolvidos e discutir ações preventivas para esses conflitos, cobrando do Governo Federal a imediata viabilização do projeto. Mas também é preciso apresentar as oportunidades de negócios aos investidores mato-grossenses, mostrar as potencialidades da região Oeste, avaliar os aspectos culturais de cada região e buscar soluções conjuntas para que o corredor de transporte tenha o máximo de aproveitamento para as populações das duas regiões envolvidas diretamente. Também há que se discutir as outras alternativas previstas para esse corredor como a hidrovia Tapajós-Teles Pires e o prolongamento da Ferrovia até Santarém.



Fonte: Ascom/Seminário BR-163

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