É triste, mas é verdade - a Rio+20 não entusiasma. A 34 dias da cúpula no Rio de Janeiro, a "maior conferência da história", como anuncia o governo brasileiro, começa a ser associada ao mega encontro sobre mudança climática que aconteceu na capital dinamarquesa, em dezembro de 2009. Não é uma boa conexão. Em Copenhague pretendia-se conseguir um tratado internacional que tratasse do aquecimento global; a Rio+20 é sobre desenvolvimento e aqui não se espera fechar um tratado. O problema é que Copenhague foi um enorme fracasso. Está mais do que na hora de a conferência sobre desenvolvimento sustentável das Nações Unidas dizer a que veio, sob risco de ser um fiasco.
São esperadas 50 mil pessoas, há uma agenda impressionante de eventos paralelos planejados (mais de mil) e estão confirmados 135 chefes de Estado entre presidentes, vices e primeiro-ministros. Mas uma conferência do gênero, que pretende definir os rumos do desenvolvimento do planeta combatendo a pobreza e reduzindo a pressão sobre os recursos naturais, não se faz só com números.Vladimir Putin, o presidente da Rússia, disse que virá, assim como o premiê chinês, Wen Jiabao, e o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh. A solidariedade dos emergentes se estende aos companheiros socialistas do novo presidente da França, François Hollande, eleito com o discurso do crescimento e indicando que pretende ocupar espaços.
Mas as ausências são pesadas. O presidente Barack Obama não deu nenhum sinal de que pode vir e a chanceler alemã Angela Merkel disse que não virá. O primeiro ministro David Cameron, do Reino Unido, já avisou em março que pularia o Rio.
A Rio+20 não é nem de longe pauta nos Estados Unidos, imerso em campanha presidencial. Estas questões não são caras aos americanos, o Congresso reage com alergia a temas ambientais planetários e o presidente Obama, candidato à reeleição, pondera a situação. A delegação dos EUA nas negociações do documento principal da Rio+20 tem procurado aquarelar decisões.
A conferência também não é prioritária na Alemanha, o país mais poderoso da Europa e do seleto clube dos mais verdes do mundo, junto com os escandinavos. Só que, ao contrário dos EUA, questões ambientais definem eleições na Alemanha. O recado de Merkel com sua ausência é de descrédito sobre resultados relevantes da cúpula, em dias em que o presente pressiona o futuro. Para a líder alemã, enfrentar a crise do euro é mais urgente do que decidir se a partir de 2020 todos os humanos terão acesso à luz elétrica - ela enviará dois ministros para isso e acha que está de bom tamanho. As ONGs ambientalistas alemãs ficaram em um silêncio esquisito e não protestaram. Uma alfinetada veio da presidente do Partido Verde, Claudia Roth, mas foi uma crítica meio protocolar.
O pior é que os líderes das nações mais influentes do mundo, à exceção de Putin, estarão na esquina, na véspera. Eles vêm à paradisíaca Los Cabos, no México, para o encontro do G-20, em 19 e 20 de junho. Para Obama, Merkel e Cameron a Rio+20 não vale uma esticadinha na agenda.
"A Rio+20 está um desastre", comentou um diplomata internacional em Bonn. "E o Código Florestal? A presidente Dilma perdeu credibilidade", dizia, atordoado com o resultado da votação do projeto de lei que modifica o Código, na Câmara, em abril.
O conteúdo da conferência também não ajuda. Ninguém fala em dinheiro, por exemplo. É um item fora da pauta. Como se financiará a economia verde no mundo dos países mais pobres, não se sabe. Alguns deles nem digeriram ainda o conceito de economia verde, acham que é um complô do Norte para camuflar barreiras protecionistas a produtos "não verdes".
A reforma institucional das Nações Unidas, outro eixo-chave da Rio+20, também está travada. É possível que a conferência termine com um conselho ou comitê, de alto nível, na ONU, e que lide com os "três pilares do desenvolvimento sustentável" - no jargão diplomático, economia, ambiente e desenvolvimento. Não é o que querem europeus e africanos. A proposta deles é de aumentar o status do Pnuma, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, e transformá-lo em uma agência, do mesmo modo que a Organização Mundial da Saúde, por exemplo.
"Para alguns países, fortalecer o ambiente é algo entendido como um tipo de luxo", disse Heiko Warnken, chefe da divisão de ambiente e uso sustentável dos recursos naturais do Ministério de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ). "Seria algo que só pode ser conseguido depois de um certo nível de desenvolvimento", continuou. "No nosso ponto de vista não funciona assim: primeiro se cresce e só depois é que se lida com as questões ambientais". Warnken lembrou que a China vem gastando mais para limpar e descontaminar áreas do que teria gasto se tivesse incluído a componente ambiental no investimento inicial. E que países africanos enxergam vantagens competitivas nas energias renováveis, que são mais eficientes e que se pagam depois de algum tempo - e que já vem buscando crescer por esta via.
A Rio+20 é uma conferência importante. Ela discute processos de desenvolvimento, discute o futuro, discute como serão as cidades em poucos anos, como se pode ter segurança alimentar com o clima mudando, como fazer para que os estoques de peixes nos oceanos não continuem caindo.
Recentemente a comunidade científica internacional reunida na conferência "Planet under Pressure", em Londres, disparou outro alarme sobre a imensa pressão que está se fazendo sobre os recursos naturais do planeta. Mas no plano político anda-se a passo de tartaruga. O principal documento da Rio+20, "O Futuro que Queremos" continua com mais de 150 páginas e quase todo entre colchetes, sinal de que os governos não alcançaram consenso sobre todos aqueles pontos. Se Merkel e Cameron têm problemas políticos em casa e fora dela, e Obama está indeciso, é óbvio que os holofotes se voltarão para a liderança do Brasil e de outras economias emergentes. O desafio, aqui, não é fácil. É o de se desenvolver por um caminho novo, sem repetir os erros dos outros.
Mas as ausências são pesadas. O presidente Barack Obama não deu nenhum sinal de que pode vir e a chanceler alemã Angela Merkel disse que não virá. O primeiro ministro David Cameron, do Reino Unido, já avisou em março que pularia o Rio.
A Rio+20 não é nem de longe pauta nos Estados Unidos, imerso em campanha presidencial. Estas questões não são caras aos americanos, o Congresso reage com alergia a temas ambientais planetários e o presidente Obama, candidato à reeleição, pondera a situação. A delegação dos EUA nas negociações do documento principal da Rio+20 tem procurado aquarelar decisões.
A conferência também não é prioritária na Alemanha, o país mais poderoso da Europa e do seleto clube dos mais verdes do mundo, junto com os escandinavos. Só que, ao contrário dos EUA, questões ambientais definem eleições na Alemanha. O recado de Merkel com sua ausência é de descrédito sobre resultados relevantes da cúpula, em dias em que o presente pressiona o futuro. Para a líder alemã, enfrentar a crise do euro é mais urgente do que decidir se a partir de 2020 todos os humanos terão acesso à luz elétrica - ela enviará dois ministros para isso e acha que está de bom tamanho. As ONGs ambientalistas alemãs ficaram em um silêncio esquisito e não protestaram. Uma alfinetada veio da presidente do Partido Verde, Claudia Roth, mas foi uma crítica meio protocolar.
O pior é que os líderes das nações mais influentes do mundo, à exceção de Putin, estarão na esquina, na véspera. Eles vêm à paradisíaca Los Cabos, no México, para o encontro do G-20, em 19 e 20 de junho. Para Obama, Merkel e Cameron a Rio+20 não vale uma esticadinha na agenda.
"A Rio+20 está um desastre", comentou um diplomata internacional em Bonn. "E o Código Florestal? A presidente Dilma perdeu credibilidade", dizia, atordoado com o resultado da votação do projeto de lei que modifica o Código, na Câmara, em abril.
O conteúdo da conferência também não ajuda. Ninguém fala em dinheiro, por exemplo. É um item fora da pauta. Como se financiará a economia verde no mundo dos países mais pobres, não se sabe. Alguns deles nem digeriram ainda o conceito de economia verde, acham que é um complô do Norte para camuflar barreiras protecionistas a produtos "não verdes".
A reforma institucional das Nações Unidas, outro eixo-chave da Rio+20, também está travada. É possível que a conferência termine com um conselho ou comitê, de alto nível, na ONU, e que lide com os "três pilares do desenvolvimento sustentável" - no jargão diplomático, economia, ambiente e desenvolvimento. Não é o que querem europeus e africanos. A proposta deles é de aumentar o status do Pnuma, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, e transformá-lo em uma agência, do mesmo modo que a Organização Mundial da Saúde, por exemplo.
"Para alguns países, fortalecer o ambiente é algo entendido como um tipo de luxo", disse Heiko Warnken, chefe da divisão de ambiente e uso sustentável dos recursos naturais do Ministério de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ). "Seria algo que só pode ser conseguido depois de um certo nível de desenvolvimento", continuou. "No nosso ponto de vista não funciona assim: primeiro se cresce e só depois é que se lida com as questões ambientais". Warnken lembrou que a China vem gastando mais para limpar e descontaminar áreas do que teria gasto se tivesse incluído a componente ambiental no investimento inicial. E que países africanos enxergam vantagens competitivas nas energias renováveis, que são mais eficientes e que se pagam depois de algum tempo - e que já vem buscando crescer por esta via.
A Rio+20 é uma conferência importante. Ela discute processos de desenvolvimento, discute o futuro, discute como serão as cidades em poucos anos, como se pode ter segurança alimentar com o clima mudando, como fazer para que os estoques de peixes nos oceanos não continuem caindo.
Recentemente a comunidade científica internacional reunida na conferência "Planet under Pressure", em Londres, disparou outro alarme sobre a imensa pressão que está se fazendo sobre os recursos naturais do planeta. Mas no plano político anda-se a passo de tartaruga. O principal documento da Rio+20, "O Futuro que Queremos" continua com mais de 150 páginas e quase todo entre colchetes, sinal de que os governos não alcançaram consenso sobre todos aqueles pontos. Se Merkel e Cameron têm problemas políticos em casa e fora dela, e Obama está indeciso, é óbvio que os holofotes se voltarão para a liderança do Brasil e de outras economias emergentes. O desafio, aqui, não é fácil. É o de se desenvolver por um caminho novo, sem repetir os erros dos outros.
Fonte: Portal Unisinos.
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