Será que o governo desistiu mesmo de fazer hidrelétricas na
Amazônia?
Telma Monteiro
Tem quem esteja cético quanto à notícia (link no final) da
desistência do governo em construir usinas na Amazônia. Na verdade, no primeiro
momento também tive dúvidas, pois não há uma afirmação de que desistiram do
Tapajós. Porém, a possível decisão poderia se justificar por:
1. A Lava Jato "engessou" grandes empreiteiras;
2. Mesmo que houvesse interesse por parte delas, seria muito
difícil impor sobrepreços;
3. Em tese, o BNDES não poderia, com a mesma facilidade,
conceder os recursos nas mesmas condições de juros abaixo do mercado; não há
dinheiro sobrando; mas como no governo tudo é possível, não dá para afirmar;
4. Em tese, o governo não poderia, dadas os escândalos
atuais, conceder benesses fiscais, carências; mas com apenas uma canetada,
seria possível e a gritaria viria depois;
5. As mudanças climáticas e as alterações dos regimes de
cheias dos rios amazônicos estão prejudicando as hidrelétricas sem grandes
reservatórios; mas corremos o risco de o governo decidir construir outras hidrelétricas
com grandes reservatórios; há pressão do setor nesse sentido;
6. O preço teto de um leilão A5 de hidrelétrica teria que
ser maior que os anteriores, o que aumentaria ainda mais o custo da energia
para o cidadão;
7. Os indígenas e as populações ribeirinhas já estão
capacitados para lutar e exigir seus direitos, lutar contra, criar atrasos e
paralisações nos processos e inviabilizar os empreendimentos no curto prazo;
8. As compensações e mitigações se constituem, atualmente,
num ônus bastante expressivo para os interessados e os prestadores de serviço;
9. O ministério público não está deixando passar nenhuma
irregularidade, pois conta com um corpo ativo e técnico e conta com os
subsídios de acadêmicos, pesquisadores e especialistas;
10. Continuo analisando os processos de licenciamento
ambiental que tramitam no Ibama e constatei que as equipes técnicas estão
exigindo ao extremo o cumprimento dos termos de referência para provar a
viabilidade dos empreendimentos hidrelétricos;
11. Os atrasos das obras de Belo Monte, Jirau, Santo
Antônio, por exemplo, colocaram em risco os investidores, as margens e a
credibilidade das empresas;
12. O risco ficou tão grande que empresas e investidores
nacionais e internacionais estão se voltando para outras alternativas ou
esperando para ver no que dá;
13. As alternativas genuinamente limpas de energia estão
despontando com força, pela primeira vez;
14. A necessidade (para o governo) de aumentar a geração de
energia elétrica vai conduzir, esse é o risco maior que corremos, na direção
das termelétricas que brotarão como cogumelos pelo Brasil;
15. A Petrobras está ferrada, mas tem gás sobrando e precisa
usá-lo e nada mais óbvio que use para tocar novas termelétricas;
16. Por fim, a construção de uma termelétrica demanda muito
menos tempo e estresse para o setor; e a visão do governo é que o país precisa
de energia urgente.
Talvez
eu esteja otimista demais, mas sonhar também é bom! Sinceramente, espero estar
certa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário