Para cada R$ 1 milhão de receita com pecuária extensiva, R$
22 milhões de impacto ambiental
Atividade gera desmatamento, gasta mais água e degrada solo
por mais tempo
A latifundiária vaca brasileira traz custos ambientais que, se
internalizados, tornariam a pecuária bovina inviável. Um estudo sobre os riscos
de financiamento lista a criação de gado como um dos setores de maiores custos
de capital natural, com impacto no desmatamento, na degradação do solo e na
emissão de gases do efeito estufa — a flatulência bovina está entre as maiores
fontes do mundo de metano, um potente gás-estufa.
Apresentado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o
Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e pela Agência Alemã para a Cooperação
Internacional (GIZ), o relatório “Exposição do Setor Financeiro ao Risco do
Capital Natural” analisou 45 setores, incluindo agropecuária, petróleo e gás,
cimento, energia, aço, florestas e produtos químicos. Ele recomenda aos bancos
e fundos de pensão novas formas de avaliar o risco de investimentos.
Segundo o relatório, para cada R$ 1 milhão de receita da
pecuária bovina, são gerados R$ 22 milhões de impactos ambientais,
principalmente em desmatamento e emissão de gases-estufa. A presidente do
CEBDS, Marina Grossi, explica que a proposta do estudo é orientar bancos e
outras fontes financiadoras na hora de conceder empréstimos. Ela lembra que a
resolução 4.327 do Banco Central, de 2014, determina a responsabilidade pelo
risco ambiental tanto por quem pratica quanto por quem financia.
Segundo Marina, a pecuária de fronteiras, que abre caminho
no cerrado e na Amazônia, é a de maior risco:
— A vaca latifundiária consome mais água, degrada o solo por
mais tempo. Existe tecnologia para mudar isso e tornar a pecuária mais competitiva.
UM ANO PARA RECUPERAR SOLO
O gado destrói o solo bem mais do que parece à primeira
vista. Ele não apenas come o capim: pisoteia e arranca a camada fértil da
terra. Alcança áreas vulneráveis, como as margens e nascentes de rios, além
daquelas de encosta, sujeitas a uma maior erosão. Por isso, projetos de
recuperação não são triviais. Precisam se adequar ao bioma, à legislação de
cada estado, ao tipo de solo, relevo e clima.
— O solo degradado já perdeu muito de sua capacidade
produtiva. Leva pelo menos um ano para recuperar uma área. E é preciso saber
que tipo de uso será melhor. Se for uma área plana e capaz de repor a
fertilidade, pode ser empregada na integração pecuária-lavoura. Já margens de
rios e topos de morro se adaptam mais à regeneração da vegetação nativa — diz
Édson Bolfe, pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite.
Se a ideia for recuperar a área para a pastagem, é preciso
levar em conta variáveis como a chamada safra do pasto e o manejo genético do
gado. E tratar o pasto como qualquer outra cultura.
— Ao mesmo tempo em que você recupera, precisa colocar mais
cabeças de gado por hectare. Há tecnologia para isso. Com isso, você aumenta os
ganhos e evita desmatar novas áreas — observa Bolfe.
Fonte: O Globo