De:O Estado de S.Paulo
Quatro gigantes do agronegócio - Bunge, Cargill, Maggi e
Dreyfus - mais a estruturadora de negócios Estação da Luz Participações (EDLP)
pretendem se associar para criar uma empresa de logística que participará dos
leilões de concessão de ferrovias. Juntas, elas respondem por 70% das
exportações de grãos do País.
Essas empresas estão dispostas a construir e operar novas
linhas em Mato Grosso. O alvo principal da sociedade, porém, é atuar como
transportadora independente de carga ferroviária. É uma figura que não existe
hoje no Brasil, mas será criada com base no novo modelo para ferrovias proposto
pelo governo.
O plano foi informado na terça-feira ao ministro dos
Transportes, César Borges. Deverá ser detalhado nos próximos dias à presidente
Dilma Rousseff, que já estava informada das linhas gerais dos estudos. "As
empresas se comprometem a serem líderes no processo", afirmou o senador
licenciado Blairo Maggi (PR-MT).
Com o plano da nova empresa, o grupo apresentou a Borges uma
proposta de mudança nas linhas que serão oferecidas como concessão federal em
Mato Grosso. O projeto, batizado de Pirarara, prevê investimentos de R$ 10
bilhões a R$ 15 bilhões. Pirarara é um peixe que pode atingir 60 quilos e 1,5
metro, encontrado nos Rios Amazonas, Tocantins e Araguaia.
Atualmente, o programa federal prevê a concessão de apenas
um ramal no Estado, um trecho da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico),
de 883 km, saindo de Lucas do Rio Verde e seguindo rumo ao leste até Campinorte
(GO), onde se interligará com a Ferrovia Norte-Sul. De lá, a carga seguirá para
o mar pelo Porto de Itaqui (MA).
Após estudar 40 mil rotas de escoamento de grãos no País, o
grupo concluiu que o ideal seria encurtar a linha em 500 km. Ela começaria mais
a leste, em Água Boa, e terminaria em Campinorte. Esse ramal reduzido está
sendo chamado de "Fico Leste".
Por outro lado, seriam criadas duas ferrovias. A principal
sairia do centro de Mato Grosso, em Sinop, e seguiria por 1.000 km até o porto
de Miritituba, no Rio Tapajós, no Pará. Lá, a carga seguiria por mais 1.000 km
de hidrovia para ser exportada pelos portos ao norte, como Vila do Conde e
Santarém.
Essa linha, batizada de Ferrovia do Grão ou Ferrogrão, seria
o canal de saída para metade da produção de soja, milho e farelo de Mato
Grosso, que deverá atingir 50 milhões de toneladas em 2020. Hoje, ela é de 30
milhões de toneladas. Por causa da posição estratégica, Itaituba, da qual
Miritituba é um distrito, já conta com praticamente todas as grandes empresas
do agronegócio.
Um terceiro ramal sairia do oeste de Sapezal (MT) e seguiria
para Porto Velho (RO), às margens do Madeira. O trajeto faz parte de antigos
estudos da Fico, por isso é chamado de "Fico Oeste". De lá, a carga
iria por rio até o Porto de Itacoatiara (AM) ou para os portos do Pará.
Economia. Maggi explicou que o grupo não é contra a Fico tal
como está proposta pelo governo. Porém, os estudos indicaram que a melhor
solução é diferente da que vem sendo analisada e era praticamente um consenso
entre os interessados. Grande empresário do setor e ex-governador de Mato
Grosso, ele se confessou surpreso com as conclusões.
"Em relação à situação que temos hoje, o frete ficaria
mais barato em R$ 40 por tonelada", disse o presidente da EDLP, Guilherme
Quintella. Coube a ele, que é chairman para a América Latina da União
Internacional de Ferrovias, elaborar os estudos. Construídos os três ramais,
98% da produção de soja, milho e farelo do Estado sairiam por ferrovia.
O grupo pediu a Borges que abra Processos de Manifestação de
Interesse (PMIs) para as três linhas sugeridas. Essa é a forma pela qual o governo
vem contratando estudos econômicos e projetos de engenharia, depois que o
virtual monopólio da Estruturadora Brasileira de Projetos (EBP) foi questionado
pelo Tribunal de Contas da União.
LU AIKO OTTA / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
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http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,gigantes-do-agronegocio-se-unem-para-investir-nas-novas-ferrovias,1144031,0.htm
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