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Quem ganha e perde com o progresso de Santarém
por Edilberto Sena (*)
As
estratégias dos grupos forasteiros que chegam à região do Tapajós e em Santarém
em especial, para se apossar das riquezas e dos bens locais é induzir os
moradores das comunidades a acreditar que o progresso vai trazer
desenvolvimento, melhoria de vida, empregos e renda para as famílias.
Assim tem feito o grupo chamado
Diálogos Tapajós, em Itaituba, Pimental e vizinhanças, em vista da construção
das hidrelétricas do belo rio. Assim também está fazendo uma representante de
uma das empresas que pretende construir portos graneleiros no bairro Área Verde
em Santarém.
A didática dos grupos enganadores é
semelhante.
Dizem que as obras serão feitas de
qualquer jeito, tanto as hidrelétricas quanto os portos. Assim também,
recentemente, uma porta voz da multinacional Cargill foi até à Câmara de
Vereadores para garantir que a empresa vai ampliar sua produção de grãos para 5
milhões de toneladas ano e que isso vai gerar empregos, renda e desenvolvimento
para a região.
As promessas são sempre semelhantes –
são irreversíveis, vão gerar empregos, renda e desenvolvimento.
Os precursores das grandes obras
chamam as comunidades para reuniões dizendo que são consultas populares, pedem
assinaturas de presença, ouvem os questionamentos de moradores, respondem com
evasivas umas, outras dizem que não é de sua alçada. E assim, ao final,
garantem que as comunidades foram consultadas.
Durante as conversa persuasivas, uns
estimulam os moradores a se cadastrarem para serem compensados quando as
desgraças chegarem. Outros logo afirmam que obras públicas não são de
responsabilidade das empresas, mas dos governantes.
No caso específico dos portos
graneleiros do bairro Área Verde, a porta voz da empresa afirma que, não se
pode reclamar nada, porque no plano diretor do município aquela área é
portuária. Não interessa se ali pessoas ocuparam e construíram casas. Os que tiverem
por acaso título de propriedade serão indenizados de acordo, caso não o tenham,
serão indenizados apenas das benfeitorias.
O que está por trás desse progresso
apelidado de desenvolvimento é que para as empresas e o poder público o que
interessa é a exploração das riquezas da região para crescimento econômico das
empresas, do município e do país.
O triste dessa situação é que a
maioria da população se conforma com essa invasão de soberania e dignidade. Ao
ponto que um morador do bairro conclui que não podemos impedir o progresso,
afinal, Santarém não pode parar.
Outro fica aborrecido com esses
questionamentos e pergunta se queremos voltar ao tempo da lamparina e do atraso
de 50 anos atrás?
Um deputado federal da região do
Tapajós afirma publicamente que não podemos impedir o governo federal de
construir hidrelétricas no Tapajós, por que o país precisa de energia e que o
governo tem força maior para executar.
Outro deputado federal da região de
Altamira afirma que as hidrelétricas são necessárias e não irão causar tantos
danos sociais e ambientais. São essas as lideranças políticas da nossa região.
Com tais “amigos”, os povos do Tapajós não precisam de inimigos.
Pensando bem, que benefícios terão os
moradores dos bairros Área Verde, Pérola do Maicá, Jaderlândia, Diamantino e
outros que não possuem documento de propriedade porque o poder público nunca se
preocupou de legalizar as áreas?
Que benefícios terá a cidade de
Santarém com as centenas de carretas e caminhões baú entrando a cada instante
na cidade por ruas que são as mesmas de dez anos atrás?
Progresso é uma coisa, serve para
poucos. Mas desenvolvimento é outra coisa, que inclui educação de qualidade
para a maioria, saúde de qualidade para a maioria, empregos com bons salários
para a maioria, e água limpa e encanada, esgotos e tratamento de lixo adequado
para a maioria etc. Isso as hidrelétricas não trarão.
Belo Monte que o diga. Portos
graneleiros não trarão, a Cargill que o diga.
Só oportunistas é que defendem o
progresso que está chegando a Santarém.
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* Santareno, é padre diocesano. É
coordenador da Comissão Justiça e Paz da Diocese de Santarém. Escreve
regularmente no blog do JESO.
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