quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Aldeia Mapuera: índios se casam para obter direitos

Uma cena inimaginável aos defensores intransigentes das tradições indígenas, mas que vai acontecer na vida real da aldeia Mapuera, localizada às margens do rio do mesmo nome, no município de Oriximiná, na região oeste do Pará. No dia 22 deste mês, 283 casais de índios de dez etnias vão oficializar a união civil na própria aldeia, constituindo o primeiro casamento coletivo indígena do Brasil. A tarefa de casar os índios será do defensor público Mário Printes, que foi nomeado juiz de paz e que terá que chegar ao local do casamento no dia anterior ao evento, tal a dificuldade da função.

Mais de 1,2 mil índios vivem na aldeia e o mais incrível é que absolutamente todos são evangélicos, segundo informações do próprio defensor público. Os índios pertencem às etnias wai wai, katwena, xerwuiana, hiskararyana, mawaiana, wadixana, tunayana, xowyana, ckiyana e caxuyana. Apesar de se submeterem ao casamento coletivo criado e mantido pela cultura das cidades, os índigenas não abrem mão de se paramentar a rigor, ao estilo tradicional da aldeia Mapuera.
Segundo o defensor Mário Printes, todos participarão da cerimônia pintados e enfeitados como manda a tradição e cultura da aldeia. Para se integrar ao evento, Mário Printes decidiu que também vai oficializar a união civil dos casais de índios paramentado com os enfeites e pinturas índigenas em respeito aos costumes das etnias.
Cidadania
O projeto para oficializar a união entre os índios da aldeia Mapuera começou a ser pensado, segundo o defensor, em janeiro deste ano, durante o Fórum Social Mundial, em Belém. Mário Printes afirma que vários integrantes de diversas tribos da região do alto trombetas, em Oriximiná, procuraram a Defensoria Pública para solicitar ajuda para resolver problemas previdenciários. É que os índios são casados apenas em cerimônias nas aldeias dentro de suas próprias tradições, mas quando alguns morrem deixam as viúvas desamparadas financeiramente, porque elas não conseguem comprovar a união estável, como requer a legislação brasileira.
Grande distância da cidade impede acesso a diversos serviços públicos
A aldeia Mapuera fica distante uma hora de avião da sede de Oriximiná. Para chegar de barco à cidade, são necessários quase seis dias de viagem, só para se ter uma idéia da dificuldade dos indígenas em alcançar qualquer benefício. Muitas etnias localizadas às margens dos rios trombetas e mapuera abaixo precisam subir mais de 80 cachoeiras para chegar à Defensoria Pública na sede da cidade. No total, segundo dados da Defensoria Pública, o Pará tem mais de 42 etnias indígenas, e 16 delas moram em Oriximiná.
Fonte: O Liberal
Fotos: Defensoria Pública/Pa
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