O
potencial hidrelétrico, da mesma forma que a biodiversidade, é uma riqueza, diz
o presidente da Empresa de Planejamento Energético (EPE), Mauricio Tolmasquim, ao reconhecer que o grande desafio na região da
bacia do Tapajós é “construir preservando o máximo possível”. O
potencial hídrico dos rios e seus afluentes espalhados pelo Amazonas, Mato
Grosso e Pará, segundo os inventários, indica que é possível construir ali mais de 40 hidrelétricas e conseguir 28
mil MW. No plano em curso atualmente, as
usinas são oito, mas o potencial da região torna a bacia hidrográfica do Tapajós a
mais importante do país.
Em
entrevista ao Valor, o engenheiro explica as diferenças de projetos entre
hidrelétricas em lugares muito povoados da Amazônia, como as do Madeira, em Rondônia, e as do Tapajós, onde a biodiversidade é muito rica, pouco
conhecida, e a população indígena, muito numerosa. “Não se pode construir uma
usina a ferro e fogo”, diz.
A
entrevista é de Daniela
Chiaretti e publicada pelo jornal Valor, 16-05-2013.
Eis
parte da entrevista.
Essa
bacia é a mais importante como potencial hídrico do país, representando 25%?
Sim,
entre as que não foram exploradas ainda. O que precisamos agora é criar
elementos importantes para o diálogo entre as áreas. Não necessariamente todo
mundo vai concordar no fim, mas isso faz parte do processo.
O inventário apontou que a bacia hidrográfica do
Tapajós poderia ter mais de 40 hidrelétricas?
Pelo inventário do Teles Pires, Juruena e Tapajós são 42 usinas. Isso não significa que serão construídas, o que
está em planejamento é outra coisa. Mas no inventário há potencial para sete
usinas no Tapajós, 29 no Juruena e seis no rio Teles Pires. São desde usinas bem pequenas até grandes.
O último Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE)
prevê oito usinas?
O
último PDE tem oito usinas na região no planejamento até 2021.
São
quatro no Teles
Pires – Colider(342
MW) e Teles
Pires (1820 MW) que já estão em construção, Sinop (461 MW), que deve ir a leilão possivelmente em
agosto, e São
Manuel (746 MW), onde ainda temos que fazer
audiência pública.
No
rioTapajós são
outras duas, São
Luiz do Tapajós (6133 MW), que está em estudos e
provavelmente vamos leiloar em meados do ano que vem, e Jatobá (2338 MW).
Por
fim, no Juruena, São
Simão (3509 MW) eSalto Augusto (1461
MW), que ainda nem se iniciaram os estudos. Isso não quer dizer que as outras
estão abandonadas, apenas não estão ainda no horizonte do planejamento. Os
estudos serão úteis para a discussão no futuro.
De que forma?
Na Amazônia há dois tipos de usinas, dois modelos. Um deles é
para áreas antropizadas, onde há muita atividade humana, que é o caso das
usinas do Madeira, em Rondônia, e de Belo Monte, no Pará, onde 70% do entorno são fazendas. Nessas
áreas, muitas vezes longínquas, com uma considerável população pobre vivendo em
situação precária, a usina é vista como vetor de desenvolvimento regional. As
condicionantes da obra levam o tratamento de esgoto aos municípios, melhoram o
sistema de saúde. Nesses casos, as usinas podem significar desenvolvimento
regional e também preservação ambiental, com a obrigação de criar áreas de
conservação, recompor a mata ciliar. Obrigações que procuram reverter o
processo de degradação e proporcionar desenvolvimento regional.
E o outro tipo de usina?
O Tapajós é uma área pouco antropizada. O grande desafio ali
não é desenvolver, é construir preservando o máximo possível. Por isso a ideia
das usinas plataformas, pensando em que as áreas onde ficariam os operários da
obra sejam temporários e que não se formem cidades, que pessoas não se
estabeleçam ali e que as áreas mexidas sejam reflorestadas.
Isso é realmente viável?
O único país do mundo que tem esse imenso potencial
hídrico na floresta é o Brasil. Temos que pensar soluções para o nosso caso,
que é muito específico. Temos esse potencial em um bioma bastante sensível, do
ponto de vista da biodiversidade, temos que criar soluções adequadas para essa
questão. Existem dois extremos – de um lado, uma visão totalmente conservacionista,
de querer deixar tudo como está e não mexer em nada. Do outro, uma visão
ultradesenvolvimentista, vamos aproveitar todos os recursos, com o impacto que
for. Estamos buscando o que está no meio dessas duas linhas.
Valor: Qual é esse
meio termo, na sua visão?
Tolmasquim:
O potencial hidrelétrico, da mesma forma que a biodiversidade, é uma riqueza.
Temos a matriz energética que menos emite gás estufa do mundo. Não vamos
aproveitar todo o nosso potencial hidrelétrico de lá. Belo Monte, do ponto de vista de engenharia não é um projeto
onde se visou produção de energia máxima. Não é que a engenharia não saiba
fazer uma usina, poderia gerar mais se tivesse um reservatório grande, mas o
impacto disso não seria aceitável. Mas não terá os impactos negativos que
poderia ter. Esse meio termo é o que buscamos, esse é o debate.
E a preservação é uma variável importante?
No
caso do Tapajós, não tenho dúvida. Não se pode construir uma usina
a ferro e fogo, destruindo todos os ecossistemas. É claro que esse modelo vai
contrariar tanto o pessoal que quer otimizar o uso daquela bacia, que não está
usando da forma ótima, como vai contrariar os que desejam preservar intocado
aquele ambiente. É preciso ter uma solução de compromisso. O potencial do Tapajós, Teles
Pires eJuruena é
de 28 mil MW – isso é o que é possível, não o que será feito. O que será feito
é o que vamos ver no futuro. Só uma parte pequena está planejada.
Fontes:
Instituto Humanitas Unisinos –Amazonia.org.br
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