quarta-feira, 10 de março de 2010

A CORRUPÇÃO É UM CRIME SEM ROSTO

A criminalidade urbana é a face mais visível de uma maquinaria complexa que passa pelo poder político do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.
A corrupção é um crime de Estado, e ganhou ares de surrealismo com as crises do PT, do PSDB e, recentemente, do Democratas. Fernando Collor de Mello, por exemplo, caiu porque impôs uma taxa de corrupção muito alta. Dizem que a instabilidade começou quando ele ultrapassou os limites razoáveis de corrupção.
É interessante lembrar que, quando a violência é abordade, se fala apenas em gangues urbanas, do tráfico de drogas, dos crimes sangrentos. Quando isso, na verdade, é apenas a ponta do iceberg.
Faz parte da estratégia do poder tentar dizer que a corrupção é menos corrosiva do que os chamados crimes sangrentos. A corrupção é um crime sem rosto, por isso parece ser um problema menor. Embora prejudiquem a vida de milhões de pessoas e da nação, os corruptos não matam A ou B. Suas vítimas são anônimas. Essa despersonalização faz com que a corrupção pareça menos grave do que outros delitos, como assassinato ou tráfico de drogas.
Em todas as sociedades existentes, sem exceção, ao Norte e ao Sul do Equador, as ricas e as  pobres igualmente, a agressividade e a violência passaram a pontuar e a cadenciar a ordem social, transformando-se na questão inaugural das agendas políticas de diversos governos. No Brasil não é diferente. Se canalizada para algo produtivo, a agressividade pode ser positiva. Mas o que vemos no País é uma espécie de espraiamento e a manifestação da agressividade através da violência. Isso se desdobra de maneira evidente na criminalidade, que está presente em todos os redutos - seja nas áreas abandonadaspelo poder público, seja na política ou no futebol. O brasileiro não é mais violeno do que outros povos, mas a fragilidade do exercício e do reconhecimento da cidadania e a ausência do Estado em vários territórios do País se impõem como um caldo de cultura no qual a agressividade e a violência fincam suas raízes.
Não adianta botar a polícia na rua atrás dos corruptos. É preciso que a mentalidade e os valores dos brasileiros mudem. A sociedade não pode mais admitir o "rouba mas faz".

Joel Birman (Psicanalista) - Isto É (Fev/2010)

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