quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O PATO NO TUCUPI

O pato não é comida corriqueira. O preparo é demorado e requer paciência. Aprendi o ritual ao observar mamãe fazê-lo para nossos almoços de aniversário e festas de fim de ano em Santarém. Para começar, era preciso garantir um pato gordo. Semanas antes, ela encomendava a ave a algum vizinho criador – de quintal mesmo. O bicho era entregue vivo ou morto. Na véspera da “festa”, limpo e em pedaços, o pato era banhado no vinha d’alhos. No dia seguinte, bem cedo, íamos à feira para comprar os outros ingredientes: tucupi, jambu e cheiro verde frescos. Lá tem feira a semana inteira.
O tucupi é o sumo da mandioca amarela, levemente fermentado. Escolhíamos sempre o menos azedo da banca de confiança que vendia produto honesto sem água em demasia ou corante artificial. Eram dois litros de tucupi “do bom” para um pato médio.
Da verdureira, levávamos dois maços de cheiro verde (alfavaca, cebolinha, coentro e chicória-do-Pará) e dois maços bem verdes de jambu, uma folhagem que dá um tremor engraçado na língua. Os comensais de primeira viagem divertem-se ou assustam-se com essa característica do jambu.
Já em casa, mamãe cozinhava rapidamente o pato na panela de pressão, só para amaciar. Em outra panela, fervia o tucupi com alho amassado, o cheiro verde, cebola fatiada, duas pimentas comari inteiras e pimentas de cheiro.
Depois, ainda era preciso assar o pato. E o cheiro espalhava pela casa… enquanto o jambu cozinhava em água e sal até os talos ficarem macios.
Assados, os pedaços de pato eram mergulhados com cuidado na panela do tucupi temperado. Fervia mais um pouquinho, juntava as folhas do jambu e mais cheiro verde. O que é a lembrança do cheiro?!!…Tampava a panela. Desligava o fogo. Deixava lá por uma meia hora ou mais para apurar o sabor. Servia com arroz branco…………… Quem comeu, sabe que vale cada minuto do tempo de preparo.
Felizes lembranças gastronômicas!

Do Karapanã

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