terça-feira, 12 de janeiro de 2010

QUAL É O PENTE QUE TE PENTEIA?

Apesar das implicações inerentes ao ato, é possível afirmar que praticamente todo ser humano do sexo masculino carrega dentro de si a frustração de não poder dar à luz seus bebês. Tudo bem, sabemos o quão árdua a tarefa é, tanto que, ao longo dos séculos, aprendemos a sublimar o fato da natureza não nos ter incumbido de desempenhá-la (por reconhecida incompetência, talvez?); mas a verdade é que aí esta descrito um motivo ao menos para que homens invejem mulheres. O outro, sem sombra de dúvida, é a escova progressiva.
Asseguro que não há dentro de nosso espectro simbólico nada que se equipare ao benefício trazido por uma escova progressiva bem feita. O tratamento expresso – se é que podemos denominá-lo assim – representa, na prática, o mesmo que uma sessão de terapia, uma dose instantânea de satisfação, ou, se preferir, uma chance de, ainda que por tempo determinado, virar o jogo, seja ele qual for: perdeu o emprego? Escova. Brigou com o namorado? Escova. Acordou se achando baranga? Escova. E por aí vai.
Louvado seja o sujeito que inventou a benesse e seus derivados, porque, mesmo sem saber, deu às mulheres a ilusão de poderem se reformular por completo num par de horas. E quem se importa se o pequeno milagre depende da submissão à quantidades significativas de substâncias químicas? Pode ser querosene, diabo verde ou creolina, se servir para alisar as madeixas, tá valendo.
Aos olhos de quem está de fora, o mercado da chapinha parece mais rentável do que o comércio de entorpecentes. Noto, inclusive, um acréscimo substancial no movimento do salão perto aqui de casa. Na porta afixaram um cartaz “temos escova marroquina”, o que me levou a indagar se existe algum fundamento na nomenclatura. Sim, porque escova de chocolate a gente até engole, mas o que exatamente caracteriza a escova como sendo marroquina?
Desculpem-me se estiver cometendo alguma injustiça, mas a impressão é a de que quanto mais longínquo for o suposto país de origem, mais eficiente soa o resultado. É papo de marketing. Aliás, alguém se espantaria, por exemplo, se um dia inventassem a escova do Uzbequistão? Atenção cabeleireiros que porventura estejam lendo esse texto, a ideia já é minha, ok? A despeito da criatividade dos nomes, o que mais me fascina no mundo das escovas é a ironia de terem como pior inimigo a chuva.
Chega a ser poético pensar na analogia que há entre o cabelo recém alisado e a carruagem de abóbora da Cinderela. Porque basta uma garoa fina para o sonho de uma noite inesquecível se esvair, literalmente, por água abaixo. Não tiro a razão de quem possivelmente enxergar nos parágrafos acima uma ponta de dor de cotovelo. Admito, sem resistência, a falta que faz a nós, homens, encontrar amparo emocional em algo tão simples, que se possa aplicar aos cabelos. O mais próximo que chegamos disso é aderir ao megahair quando calvos, ainda que não seja bem a mesa coisa.



Bruno Medina

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